Jovem que morreu após entrar em jaula de leoa na Bica é sepultado em João Pessoa
- Redação
- há 2 horas
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Sepultamento teve apenas dois familiares; trajetória marcada por abandono, doença mental sem tratamento e falhas na proteção social é investigada pelo Ministério Público

O jovem Gerson de Melo Machado, 19 anos, morto após entrar no recinto dos leões no Parque Zoobotânico Arruda Câmara, a Bica, em João Pessoa, foi sepultado na segunda-feira (1º) com a presença apenas da mãe e de uma prima. Com histórico de abandono, transtorno mental não tratado e passagens por abrigos, ruas e unidades de saúde, o caso gerou comoção e levou o Ministério Público da Paraíba a abrir investigação sobre eventuais falhas na rede de proteção e na segurança do parque.
Gerson foi afastado da família ainda na infância após a mãe, diagnosticada com esquizofrenia, perder o poder familiar. Diferente dos irmãos, que foram adotados, ele passou a infância em instituições, frequentemente rejeitado por apresentar comportamentos psicóticos. A conselheira tutelar Verônica Oliveira relembra que ele fugia dos abrigos para procurar a mãe. “Ele acreditava que ela poderia acolhê-lo, mesmo quando também estava doente”, contou.
Sem tratamento contínuo, o jovem viveu anos nas ruas. Dormia em praças, pedia comida e, segundo a família, buscava ser detido para ter abrigo. “Ele tinha medo das pessoas darem nele e via o presídio como proteção”, disse a prima Ícara Menezes. A instabilidade mental também o levou a delírios recorrentes envolvendo animais. Ele dizia que viajaria para a África para “domar leões”, segundo relatos de familiares e conselheiros.
Dois dias antes de morrer, ele esteve no Conselho Tutelar pedindo documentos para tirar a carteira de trabalho. No domingo (30), segundo a prefeitura, escalou uma parede de mais de seis metros, ultrapassou grades e usou uma árvore para acessar o recinto dos leões sem ser visto por funcionários. Ao entrar no local, foi atacado pela leoa Leona. O laudo inicial aponta choque hemorrágico e ferimentos no pescoço.
O parque foi fechado temporariamente, e a prefeitura afirma que segue normas de segurança. O Ministério Público investiga tanto o episódio quanto o histórico de atendimentos prestados ao jovem, cuja trajetória ultrapassa 200 páginas de registros no Conselho Tutelar. A família disse que a Bica fazia parte de suas fantasias constantes. “Era o leão mais próximo para ele domar”, afirmou Ícara.
O enterro simples e silencioso encerrou a vida de um jovem marcado pela falta de tratamento, vínculos fragilizados e sucessivas rupturas institucionais, uma história que agora mobiliza questionamentos sobre responsabilidade pública, prevenção e cuidado.





