Trump ameaça cassar licenças de emissoras críticas e amplia tensão sobre liberdade de expressão nos EUA
- Redação
- 19 de set.
- 3 min de leitura
Suspensão de programa de Jimmy Kimmel e declarações do presidente geram reação de entidades civis e democratas

Em mais um episódio que amplia o clima de tensão política e institucional nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump ameaçou nesta quinta-feira (18) cancelar as licenças de rádios e televisões que criticam seu governo. A fala foi feita a jornalistas durante seu retorno do Reino Unido para Washington e teve como alvo específico as emissoras que, segundo ele, oferecem apenas "publicidade ruim".
“Quando se tem uma rede e se tem programas noturnos e tudo o que fazem é criticar o Trump. É só o que fazem. Eles me dão apenas publicidade ruim. Eles estão recebendo uma licença. Eu acho que talvez a licença deles devesse ser retirada”, afirmou o presidente.
A declaração causou reação imediata de entidades de defesa da liberdade de imprensa e parlamentares democratas, que acusam Trump de tentar intimidar veículos críticos por meio do uso político de órgãos reguladores, como a Comissão Federal de Comunicações (FCC), responsável pela renovação e fiscalização das licenças de radiodifusão nos EUA.
FCC pressionada e o caso Jimmy Kimmel
Trump indicou que a decisão sobre o cancelamento de licenças caberia ao chefe da FCC, Brendan Carr, a quem classificou como “um patriota que ama nosso país”. Pouco depois, o próprio Carr fez declarações públicas pedindo que afiliadas da rede ABC, pertencente à Disney, "reagissem" à atuação do apresentador Jimmy Kimmel, um dos principais críticos do presidente.
Kimmel teve seu programa retirado do ar “indefinidamente” após fazer comentários sobre o assassinato do militante de extrema-direita Charlie Kirk, aliado próximo de Trump. O responsável pelo crime, Tyler Robinson, foi descrito de forma controversa por Kimmel, gerando uma reação da base política conservadora.
“O que vimos foi uma interferência clara do governo sobre a programação editorial de uma emissora. A FCC está sendo usada como ferramenta de censura política”, criticou Christopher Anders, diretor da Divisão de Democracia e Tecnologia da União Americana pelas Liberdades Civis (ACLU).
Liberdade de expressão em risco
A suspensão do programa e a ameaça de cassação de licenças provocaram protestos em frente à sede da ABC, em Nova York, e aumentaram o temor de que a Casa Branca esteja operando para controlar a narrativa pública sobre temas sensíveis.
“Autoridades de Trump estão abusando repetidamente de seu poder para barrar ideias que não gostam, decidindo quem pode falar, escrever e até mesmo fazer piadas”, denunciou Anders. A ACLU classificou os recentes episódios como uma “grave ameaça às liberdades garantidas pela Primeira Emenda da Constituição”.
Democratas no Congresso também reagiram. A senadora Elizabeth Warren afirmou que as ações do presidente configuram um “ataque aberto à democracia”. “Um líder que usa o poder do Estado para silenciar críticos não é um democrata, é um autoritário”, declarou.
Trump: 'Kimmel foi demitido por não ser talentoso'
Em entrevista coletiva após as críticas, Trump ironizou o afastamento de Jimmy Kimmel e negou qualquer relação com a liberdade de expressão. “Ele disse uma coisa horrível sobre um grande cavalheiro conhecido como Charlie Kirk. Jimmy Kimmel não é uma pessoa talentosa e eles deveriam tê-lo demitido há muito tempo”, disse. “Você pode chamar isso de liberdade de expressão ou não, ele foi demitido por falta de talento”, completou.
Contradição com discurso externo sobre o Brasil
As declarações de Trump chamam atenção por ocorrerem simultaneamente ao endurecimento da postura dos EUA em relação ao Brasil, sob o pretexto de defender a liberdade de expressão. O governo americano aplicou uma taxação de 50% sobre exportações brasileiras e sancionou o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Segundo Trump, essas medidas são uma resposta à “perseguição política” promovida pelo STF contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados. O governo dos EUA acusa o tribunal de promover censura contra a oposição e redes sociais americanas.
A contradição entre o discurso internacional e as ações internas foi apontada por analistas como um exemplo claro de uso político da pauta da liberdade de expressão.
“É curioso ver o governo Trump usando a liberdade de expressão como argumento para interferir na soberania de outro país, enquanto ameaça diretamente jornalistas e artistas dentro dos próprios Estados Unidos”, comentou a jornalista americana Rachel Gerson, especialista em cobertura política.
Contexto de polarização e violência política
As tensões nos EUA ocorrem em um ambiente já inflamado após o assassinato de Charlie Kirk durante uma palestra em uma universidade em Utah. O episódio intensificou os embates entre grupos de direita e esquerda e levou figuras ligadas ao movimento MAGA (Make America Great Again) a exigirem retaliações contra a imprensa.
Há ainda uma disputa em torno do perfil político do assassino, Tyler Robinson, cujas motivações ainda não foram oficialmente esclarecidas, mas que tem sido objeto de manipulação por diferentes alas políticas.
Enquanto isso, setores da mídia tradicional tentam resistir às pressões do governo, mas enfrentam crescentes ameaças jurídicas e econômicas.










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